Visão Geral
A fase de imersão é a fase caracterizada pela aproximação do problema. É nesta etapa que a equipe busca conhecer conceitos que permeiam o tema do App a ser projetado. Para obter estes insumos, são feitos diversos tipos de pesquisas tais como entrevistas, buscas de tendências e observação direta

- Entrada da fase: a ideia ou visão geral de aplicação;
- Saída da fase: CCA (Canvas dos Cuidadores de Autistas); CTA (Canvas dos Terapeutas de Autistas); CSS (Canvas do Solicitante do Software);
- Formulário de Caracterização do Autista respondido; e VGA (Gráfico de Visão Geral do Autista);
- Envolvidos: Pais, especialistas, solicitante do software, Designers/desenvolvedores;
- Atividades da Fase: Aprender sobre o contexto, Elicitar Requisitos e Consolidar Dados, representadas e detalhadas a seguir.

Atividades da fase de Imersão
Aprender sobre o contexto
Como o próprio nome diz, nesta etapa o projetista/equipe deve buscar informações tanto sobre autismo quanto sua relação com o contexto do App (que aqui nomeamos de tema), chamada de Pesqusia Desk. Com o enfoque centrado no usuário, este contexto diz respeito também em estudar e compreender as características do autista, e como estas características influenciam nas ações a serem tomadas para se projetar a interface desejada. A Figura 5 apresenta um diagrama com a visão geral desta atividade e suas sub atividades.

Sugestões de procedimento
1. Elaborar os itens de busca (Com base na visão geral da aplicação), ou seja, termos e/ou palavras chave a serem usados na pesquisa desk que tenham relação com o Autismo. DICA: Caso o projetista/equipe não tenha qualquer afinidade com o tema Autismo sugere-se que sejam incluídos o seguinte: Conceito de autismo, níveis de autismo, formas de comunicação de um autista, principais características e limitações de um autista, ação/reação do autista em relação ao contexto da aplicação;
2. Definir termos e palavras que estejam em conformidade com o contexto de uma aplicação. Por exemplo, supondo o contexto de um App para ensinar lateralidade (lado direito e esquerdo), então deve-se buscar informações sobre como o autista entende o que é lado direito e esquerdo, quais as principais dificuldades que um autista apresenta para compreender o que é lado esquerdo e direito. DICA: De um modo geral, independente do tema, sugere-se que sempre se busque por questões quanto ao que agrada e o que desagrada o autista em relação ao tema proposto, quais suas dificuldades em relação ao tema proposto (contexto do app); e, finalmente, quais tipos de solução (outros apps por exemplo) já existem para o tema em questão, e se esta solução tem alguma relação;
3. Definir as fontes de busca (livros, sites, vídeos, revistas, blogs de pais e/ou especialistas em autismo, artigos relacionados etc.); Executar a pesquisa. DICA: Anotar os resultados das pesquisas de forma manuscrita ou digitada, colocando-se os dados da fonte para uma possível necessidade de reconsultar. Para tanto sugere-se algo como no exemplo a seguir.

Elicitar de Requisitos
Nesta atividade é feita a extração de informações do cliente sobre o que ele deseja que seja construído. É o momento de conversa com o usuário, de sentimento sobre o que este espera que lhe seja entregue. Além disso, nesta atividade são percebidas as necessidades do sistema e as características que ele deve ter. As técnicas definidas para a atividade de Elicitar Requisitos no ProAut são: Entrevistas e Pesquisa Exploratória. Além disso, esta atividade possui uma sub atividade denominada Caracterização do Autista, que consiste na aplicação do FCA (Formulário de Caracterização do Autista), e é realizada durante a entrevista com os pais/mães e especialistas. A atividade de Elicitar Requisitos gera, como artefatos, um conjunto de anotações bem como o FCA preenchido. Esses artefatos servirão de insumo para a próxima atividade (Consolidação dos dados). A Figura 6 apresenta um diagrama que permite a visão completa da atividade de Elicitação de Requisitos.

Entrevistas
O ProAut contempla 3 tipos de entrevistas, são elas: entrevista com o solicitante, entrevista com cuidadores e entrevista com os terapeutas. A entrevista com o solicitante é obrigatória, uma vez que é ele quem repassará as necessidades do software/Aplicativo. Para cada tipo de entrevista é disponibilizado um roteiro de perguntas. Entretanto, o entrevistador não precisa ficar limitado a este roteiro. Ou seja, assim como
ele pode sentir a necessidade de fazer novas perguntas para complementar as respostas, pode também deixar de fazer alguma.
Entrevista com solicitante – a primeira entrevista deve ser realizada com o solicitante do aplicativo. Nela devem ser coletadas informações sobre o objetivo do aplicativo, quais habilidades que se deseja que sejam trabalhadas pelo aplicativo, bem como os requisitos e funcionalidades almejadas. A tabela a seguir apresenta o roteiro de perguntas a serem feitas ao solicitante:

Entrevista com Cuidadores – a entrevista com os cuidadores deve ser realizada após a entrevista com o solicitante do aplicativo. O motivo é que, de posse do conhecimento sobre os objetivos e necessidades do aplicativo, sejam feitas algumas perguntas relacionadas com o tema/contexto do aplicativo. Dessa forma, nessa entrevista o projetista/equipe deverá coletar informações, por exemplo, quanto aos aspectos sociais do autista, atividades que acalmam/estressam, relação com tecnologias, entre outras. A tabela apresenta um roteiro a ser usado para entrevista com os cuidadores:

Entrevista com terapeutas – a entrevista com os especialistas também deve ser realizada após a entrevista com o solicitante, pelo mesmo motivo dado para os cuidadores. Além disso, a seleção de alguns especialistas é feita de acordo com os objetivos e necessidades do aplicativo. Por exemplo: um aplicativo voltado para educação (alfabetização, ensino de matemática, vogais, etc.) deve se considerar uma entrevista com um pedagogo especialista em educação de autistas; um aplicativo destinado ao auxílio de desenvolvimento verbal de se considerar uma entrevista com um fonoaudiólogo especialista em atendimento a autistas; e assim sucessivamente. Na entrevista com especialistas o projetista/equipe deverá coletar informações, por exemplo, quanto aos aspectos sociais do autista, atividades que acalmam/estressam, relação com tecnologias, entre outras. A tabela a seguir apresenta as perguntas a serem feitas aos terapeutas:

OBS: Caso tenha dificuldades para entrevistar pais/mães/responsáveis e/ou especialistas, o designer/desenvolvedor poderá fazer uso do GuideAut, um repositório composto de informações sobre autistas (em desenvolvimento).
Sugestão de Procedimento para as entrevistas:
1. Agendar com o entrevistado;
2. Somente para os especialistas a seleção deve ser feita de acordo com a área de atuação em relação ao objetivo e necessidades do software;
3. Definir o meio para registrar a entrevista (gravação de áudio, bloco de anotações, filmagem etc.);
4. Providenciar material para o registro da entrevista;
5. Chegar com antecedência ao local da entrevista;
6. Exceto para o solicitante, explanar os objetivos e necessidades do software bem como a finalidade da entrevista e apresentar o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) e solicitar sua assinatura (ou concordância para o caso virtual);
7. Também exceto para o solicitante, explanar sobre o preenchimento do FCA. Sendo que para o especialista, ele deverá responder com base na maioria dos atendimentos. Por exemplo, na pergunta 25 (anda na ponta dos pés) o(a) especialista deverá responde sim (1) caso a maioria dos seus atendidos tenham essa característica;
8. Antes de usar o roteiro proposto perguntar e anotar o nome do entrevistado;
9. Iniciar a entrevista usando o roteiro sugerido;
10. Somente para pais/mães/responsáveis e especialistas aplicar o FCA.
Caracterizar do Autista
Consiste na aplicação do FCA, cujas informações servirão de base para as técnicas de Personas, Mapa de Empatia na fase de Análise. O mesmo deve ser apresentado no início das entrevistas com os cuidadores e terapeutas. O FCA é um formulário dividido em 4 seções, representando as 4 principais áreas de limitação de um autista, a saber: Interação, Comunicação, Comportamento e Cognição. Cada seção é composta de um conjunto de características para as quais o entrevistador deve assinalar com o valor 1, para quando a criança apresentar a característica, e 0 caso contrário. O preenchimento do FCA produz um gráfico denominado Gráfico de Visão Geral do Autista(VGA), o qual permite visualizar o grau de comprometimento em cada uma das áreas. De forma que, quanto mais alto o percentual do autista em uma determinada área, maior é o comprometimento nela. A figura a seguir apresenta um exemplo do VGA, em que se pode observar que a área de comunicação é a mais comprometida, seguida das áreas de interação e cognição, ambas com mais de 50% de comprometimento.

Sugestão de Procedimentos:
- Imprimir o FCA (caso não seja possível aplicar por meio eletrônico);
- Antes de iniciar a entrevista com os pais/mães/responsáveis e falar sobre a necessidade de preencher o FCA;
- Definir se o FCA será aplicado antes ou depois da entrevista;
- Iniciar a aplicação do FCA marcando para cada item de característica, o valor 1 caso a característica esteja presente na criança ou 0 no caso de ausência.
Ressalta-se que a característica é considerada como presente, se o autista apresentar mesmo que de forma esporádica. Por outro lado, é considerada ausente se nunca apresentou, ou se apresentou raríssimas vezes ao longo de sua vida;
Pesquisa Exploratória
A Pesquisa Exploratória é uma atividade opcional, e deve ser realizada caso o projetista/equipe sinta a necessidade de aprofundar oss conhecimentos em relação ao cotidiano dos autistas. A Pesquisa Exploratória é feita por meio de observação em um ambiente real que envolva um autista em relação ao tema do projeto. Pode ser na escola, em um consultório ou mesmo em casa.
Lembrando que não há intervenção, somente observação. Essa pesquisa ajuda o projetista/equipe não só a ter boas ideias, como tambémdefinir e conhecer melhor o perfil dos autistas. O observador não pode interagir nem interferir no cenário observado (ele dever ser como “uma mosca na parede”).
Sugestão de Procedimento:
- Agendar o procedimento com uma família/especialista/professor/escola, ou seja, o responsável pelo local onde será realizada a pesquisa exploratória;
- Definir o meio para registrar a observação (gravação de áudio, bloco de anotações, filmagem etc.);
- Providenciar material para o registro da observação;
- Chegar com antecedência ao local;
- Registrar as formas de interação e comportamento da criança no seu cotidiano;
Consolidar Dados
A atividade de Consolidar Dados consiste na análise das informações obtidas pelas respostas das entrevistas realizadas, e seu mapeamento para o Canvas correspondente. Por exemplo, as respostas das entrevistas realizadas com especialistas deverão ser analisadas e mapeadas para o ASC (Autims´s Specialists Canvas), aqui simplificado para Canvas do Especialista, e assim sucessivamente. Esta etapa produz como artefatos os Canvas devidamente preenchidos, juntamente com o(s) FCAs e o(s) respectivo(s) VGAs. A figura a seguir apresenta cada tipo de entrevista associada ao seu respectivo Canvas.

Mapeamento das entrevistas para os Canvas correspondentes
Mapeamento do roteiro de entrevista do cliente para o CCS
O mapeamento das questões feitas ao solicitante para o Canvas dos Solicitantes é mostrado na figura a seguir. Cada pergunta deverá ser mapeada de acordo com os números apresentados na respectiva Figura. Por exemplo, as questões 1, 2 e 3 deverão ser mapeadas para a seção 1 (Perfil) do canvas, já a questão 4 para a seção 2, a 5 para a 3 e assim sucessivamente.
A maioria das questões deverão ser mapeadas por meio da análise e extração de informações relevantes obtidas na entrevista, e podem ser apresentadas em forma de tópicos ou textualmente.

Mapeamento do roteiro de entrevista dos cuidadores para o CCA
O mapeamento das questões feitas aos pais/mães/responsáveis para o canvas correspondente é mostrado na Figura 10. Tal como no ARC o APC também pode ser preenchido tanto em forma de tópicos quanto textualmente, e cada pergunta deverá ser mapeada na seção de acordo com os números apresentados na Figura 10.
Para a seção Perfil, algumas observações:
Questão 1: Com as idades obtidas em cada entrevista com os pais/mães/responsáveis definir a faixa etária, pegando a menor idade como limite inferior e a maior como limite superior. Por exemplo, se as idades obtidas foram 6, 8, 10, e 5 anos, a faixa etária definida será de 5 a 10 anos;
Questão 2: Colocar o tipo de comunicação: verbal, não verbal ou verbal ecolálico (ou seja, resumir em uma dessas classificações);
Questão 3: Dependendo da quantidade de entrevistados, criar um intervalo com as diferentes séries obtidas. Por exemplo: no item frequentam escola, se a maioria for sim, colocar no canvas o intervalo da série. Por exemplo, se uma criança frequenta 3ª, outra 4ª e outra 5ª do ensino fundamental, então no canvas deve-se colocar de 3ª a 5ª série do ensino fundamental. Caso a maioria não frequente escola, inserir no canvas “não frequenta escola”;
Questão 4: pegar as diferentes respostas e verificar a que mais aparece. Por exemplo, se 2 crianças moram com os pais, 1 só com a mãe e 1 com a avó, transcrever para o Canvas “mora com os pais”, pois representa a maioria;
Questões 6 e 7 – Dependendo do quantitativo, colocar a resposta da maioria. Por exemplo: no item frequentam escola, se a maioria for sim, colocar.
Para as demais seções analisar cada respostas e extrair as informações mais relevantes, e mapear para a seção correspondente, conforme figura a seguir.

Mapeamento do roteiro de entrevista dos especialistas para o ASC (Autism´s Specialists Canvas)
O mapeamento das questões feitas aos especialistas para o canvas correspondente é mostrado na figura a seguir. Tal como os mapeamentos anteriores, cada pergunta deverá ser mapeada na seção de acordo com os números apresentados. Por exemplo, as questões 1, 2 e 3 para a seção 1 (Perfil) do ASC, a questão 4 para a seção 2 (estereotipias/manias) e assim sucessivamente.
Para a seção Perfil, algumas observações:
Questão 1: Com as idades obtidas em cada entrevista definir a faixa etária, pegando a menor idade como limite inferior e a maior como limite superior. Por exemplo, se as idades obtidas foram 6, 8, 10, e 5, a faixa etária definida será de 5 a 10 anos;
Questão 2: Colocar o tipo de comunicação: verbal, não verbal ou verbal ecolálico.

Eliminar conflitos – Em uma determinada entrevista, caso seja obtida uma resposta que conflite com a de outra entrevista, deve-se usar aquela que tiver mais incidência (quantidade de semelhantes). Exemplo: Suponha que em uma entrevista com uma determinada mãe, esta responda que tomar banho é uma atividade que estressa, e em outra entrevista com outra mãe, esta mesma resposta apareça como atividade que acalma. Nesse caso, deve-se avaliar a maior incidência das respostas dos respondentes (demais entrevistados), ou simplesmente escolher a que, em sua visão e/ou experiência, for mais conveniente à seção do canvas.
Transferir o FCA para o meio eletrônico – caso não tenha sido possível usar o FCA no modo eletrônico, deve-se transferir para tal modo, para que seja possível gerar o VGA. OBS: Importante ressaltar que caso não seja possível realizar entrevistas com pais ou especialistas, favor consultar o GuideAut.